quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

SOU MÃE DA MINHA MÃE...

SOU MÃE DA MINHA MÃE
Eu cuido de um bebê que tem 84 anos. No começo foi muito difícil. Quase imperceptíveis, os sintomas foram aparecendo. Por isso temos de ficar atentos com nossos pais, aos pequenos detalhes. Quando eu percebi uma leve lentidão, levei-a a um neurologista, que me deu um diagnóstico de que com o passar do tempo tudo ia se agravar.
Os cuidados que eu tenho são os mesmo de que com um bebê. Que não me censura, nada discerne e não responde pelos seus atos. No começo foi uma barra pesada. Sabe onde acho força para tudo: no meu criador! Depois do banho a trocava, quando voltava ao quarto, já a encontrava sem as roupas e sem a fralda. Só queria ficar nua. Eu achava um comportamento estranho. Até brincava: Será que na outra geração a senhora foi índia?
Um dia a levei a um geriatra. Conversei sobre tudo e ele me preparou: “Vai chegar a um estágio que ela vai ficar nervosa, agressiva, caberá a você entender e aceitar, pois é um processo irreversível. Quando é diagnosticado cedo se pode fazer prevenção, mas mesmo assim sem maiores garantias”. – Houve dias em que ela amanhecia mal humorada, em outros, muito amável, como se quisesse se comunicar através do humor.
No cotidiano, ao acordar dou-lhe banho, troco a fralda, limpo as orelhas, corto as unhas, passo creme na pele, coloco uma colônia refrescante, dou a papinha, sem esquecer da água, já que ela não pede. Em tudo observo se engoliu para não acontecer sufocamento e me previno para não acontecer nenhum acidente. Sou mãe da minha mãe 24 horas todos os dias e clamo a Deus que me mantenha forte até o fim de seus dias.
Quando olha para ela vejo um bebê indefeso que precisa de carinho. D. Maria Zita, às vezes faz birra como criança, fecha a boca ou dá uma risadinha brincando com a comida. No fundo do seu íntimo só quer ser amada, nada mais lhe resta.
Dou-lhe muita ternura mesmo não sabendo quem eu sou, complementando o que mães e pais esperam de seus filhos: amor, carinho, compreensão. Falo sempre em seu ouvido: Quem está aqui é sua filha Genilsa. Ela abre um sorriso de segundos, acaricio seu rosto, beijo sua cabeça, deixo-a mais segura. Faço apenas o que ela faria por mim. Deixo aqui meu carinho e respeito a essa grande mulher. Enquanto também estou orientando minha filha de 15 anos. Feliz Dia das Mães.
(Por Genilsa Lima de Aroeira)

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